sábado, 2 de setembro de 2017

Mudança... ah! sua maldita e, ao mesmo tempo, maravilhosa necessidade!

 Pois é... muitas e muitas coisas mudaram desde meu retorno ao blog. Neste momento, encontro-me em uma posição na qual eu não imaginaria que iria estar hoje no momento em que escrevi sobre "Defeitos: somos frutos de uma criação imperfeita?". Naquela época, eu estava justamente terminando as disciplinas do mestrado e restava um longo ano de pesquisas pela frente, no qual eu dividi meus afazeres em programações extensas, vasta busca por artigos na literatura e a escrita da minha dissertação.

Naquela época, eu estava ainda incerto sobre o rumo que o meu projeto de mestrado iria tomar. Sim, eu tinha ideia do que queria mostrar, eu sabia por onde caminhar, mas eu não sabia se as coisas iriam funcionar ou, até mesmo, se os resultados impressionariam a minha banca avaliativa. E, além disso, tinha mais um detalhe: eu sabia que não queria mais seguir pesquisando na área de LIBS no doutorado. Eu já havia manifestado interesse em mudar de área assim que terminei a graduação, surgiram oportunidades bacanas, mas não mudei porque muitos me aconselharam a fazer mestrado na área em que eu havia desenvolvido minha principal iniciação científica e estágios. Esses conselhos eram fundamentados no fato de que o mestrado tem apenas dois anos, e aprender uma área nova nesse período pode ser arriscado para desenvolver um bom trabalho. Sinceramente, não foi um período fácil e eu acabei seguindo esse conselho e permaneci firme. Hoje, vejo esta decisão como a mais inteligente que eu poderia tomar naquela época, principalmente pelo fato de que eu estava numa "zona de conforto" intelectual, possuia capacidade para desenvolver algo de qualidade e, principalmente, eu mudaria de instituição: sairia da UFSCar e iria pra USP de São Carlos. Essa sim foi a melhor mudança que eu poderia experimentar!

Confesso que eu estava de saco cheio (!!!) da UFSCar, já não aguentava mais a quantidade infindável de paralizações da biblioteca e do restaurante universitário, a IMENSA burocracia para solicitar documentos no Departamento e a nem sempre boa recepção dos funcionários de lá... era algo que me deixava carregado, cansado e, claro, muito desestimulado. Encontrei um ambiente bastante diferente na USP de São Carlos. Eu fiquei REALMENTE surpreso. O Instituto de Física é absolutamente impressionante: construções bem feitas, pinturas novas, biblioteca própria, dotada de um acervo IMENSO de livros de física, ciências dissertações, teses, revistas... salas com isolamento acústico, um silêncio sepulcral (!!!), restaurante universitário de qualidade, com alimentos bem preparados. O ambiente de estudos era propício para desenvolver algo bacana alí. Todas as salas possuiam boa iluminação, ar-condicionado (na UFSCar, apenas ALGUMAS salas possuíam ventiladores... algumas....), lousas realmente grandes e de qualidade. A galera que frequenta o IFSC estava ali porque realmente queria estudar, desenvolver algo bacana, trocar ideias sobre ciências e coisas bacanas. Só o fato de que o Instituto possui atendimento EXCLUSIVO aos alunos de graduação e pós-graduação, com horários fixos diariamente, já diz muita coisa sobre a qualidade dos serviços prestados... enfim, foi realmente muito bom vir para a USP.

Com isso tudo, eu teria (como tive) todas as condições para me dedicar com entusiamso ao trabalho, não só por conta da USP, mas também por toda a excelente infraestrutura da Embrapa Instrumentação e dos grandes pesquisadores que lá trabalham. No período de mestrado, fui bem orientado e instruído, continuei ampliando meus conhecimentos, não somente à respeito de LIBS, mas também sobre Física em geral. Eu tinha liberdade para decidir meus horários e minhas atividades e a forma com a qual eu faria as coisas andar. E isso foi, de fato, muito importante. Mas a questão era que eu queria mudar de área de pesquisa, eu senti que, por mais que eu gostasse de LIBS (sim, eu realmente gosto), eu queria descobrir algo novo. Eu queria descobrir algo que fosse desafiador, que proporcionasse verdadeiras possibilidades de trabalhos internacionais, tivesse um bom investimento e que contrubuisse de alguma forma para a população de modo geral.

Então, ainda em 2016, eu me inscrevi no excelente Workshop em Física Molecular e Espectroscopia. Eu tinha três objetivos com este Workshop: 1) apresentar meus trabalhos do mestrado até então desenvolvidos e trocar ideias para eventuais colaborações; 2) conhecer o Rio de Janeiro e descansar um pouco; 3) conhecer uma área nova de pesquisa. Apesar de encontrar mais um grupo de pesquisadores do ITA que trabalham com LIBS, o terceiro objetivo não foi completado. No mais, a viagem foi excelente, os almoços e coffebreaks fornecidos pelo evento foram ABSOLUTAMENTE impressionantes (haja visto que tinha Chandon... táquêparíu, né?), fiz amizades muito bacanas no hostel (Gaia Hostel, no Botafogo, que eu recomendo fortemente) e consegui voltar com as energias renovadas para finalizar o segundo semestre de 2016 (o evento foi em outubro) e terminar o mestrado, no primeiro semestre de 2017. Para quem tiver interesse, o pôster que eu apresentei no XIII WFME pode ser visto aqui e o resumo do trabalho pode ser lido aqui.

Nesse meio de incertezas à respeito do futuro, minha namorada, que estava a par das minhas ideias, descobriu que haveria um curso de verão no Instituto de Fisica na USP de SP (IFUSP) e me recomendou participar, afinal, esse curso seria uma apresentação das diversas áreas de pesquisas lá existentes e eu poderia, eventualmente, descobrir algo que me chamasse a atenção. Dito e feito. Participei do curso de verão, em fevereiro. Nesse período, eu estava finalizando meus tratamentos de dados, havia iniciado a escrita da dissertação e estava estudando para a prova do doutorado (o caro e cansativo Exame Unificado das Pós-Graduações em Física), com ideias de alinhar minha futura pesquisa para a área ambiental (quem diria!!!), mas sem sair da Física, especificamente, a Física Aplicada. Isso, claro, fruto da total e maravilhosa influência da Embrapa.

No curso de verão, a primeira palestra, às 08h da manhã, foi a respeito de Física Atmosférica e Mucanças Climáticas, proferida pelo Dr. Paulo Artaxo, que é físico, internacionalmente reconhecido e um dos maiores pesquisadores brasileiros (para saber mais, clique aqui) . Naquele momento, naquele instante, eu havia tido a certeza do que eu queria seguir no meu doutorado. De fato, a área de física atmosférica e mudanças climáticas lida, principalmente, com modelos geofísicos e estudos fenomenológicos dos efeitos naturais e antrópicos no clima. Em especial, o grupo do professor Dr. Artaxo estuda aerossóis atmosféricos e relações entre a geração de aerossóis provenientes de queimadas naturais e de combustíveis fósseis na dinâmica atmosférica amazônica e os impactos disso no clima. Pois é, isso era justamente o que eu precisava. 

O fato é que as outras palestras do curso de verão perderam importância para mim, pois eu tinha em mente o que eu queria e não, não foi uma decisão tão impetuosa quanto parece. Acontece que, como todos devem saber, eu sempre tive uma queda gigante por astronomia, e por muito tempo eu acreditei piamente que eu seguiria essa área pelo resto da vida. Não é que eu tenha deixado de amar astronomia como uma área científica brilhante para pesquisa, mas a questão dos poucos investimentos em ciência no Brasil, em especial na Astronomia, me deixou desestimulado (um exemplo do que acabei de dizer está aqui). E não somente de conhecimento vive o homem... Já ao estudar mudanças climáticas com o viés físico e aplicado eu estaria unindo meu interesse em astronomia, em escala planetária, com aquilo que eu estava buscando. Ainda durante o curso de verão eu marquei uma reunião com aquele que seria meu futuro orientador no doutorado, não criei muitas espectativas, afinal um cientista como o Paulo certamente iria querer alunos extremamente brilhantes... quando ele pediu meu histórico e currículo ainda por e-mail, na noite anterior à conversa eu achei que eu estivesse perdido... mas eu não poderia estar mais errado! Conversamos bastante, fiquei muito empolgado com as possibilidades de trabalho e vi que trabalhar em Física Atmosféria seria meu "destino" científico.

Após o curso de verão, eu tive tempo para amadurecer essa ideia por pelo menos 5 meses antes de tentar uma bolsa no IFUSP. Tive reuniões mensais com o Dr. Paulo Artaxo antes dele ir à Harvard em maio, e participei de um evento a respeito de tratamento dos gigantescos dados gerados pelos experimentos do projeto GoAmazon, no qual pude concluir concluí que, de fato, eu queria estar ali. Naquele grupo. Naquele projeto. Naquela cidade. Isso significou que eu teria que passar por mais uma grande mudança na minha vida, certamente a maior até aqui: mudar novamente de cidade, e dessa vez, para a maior cidade brasileira, temida por muitos (que assistem ao Datena) e amada por outros (como eu) e, além disso, mudar de área de pesquisa, o que implica em, dentre outras coisas, ESTUDAR MUITO. Mas nada muito diferente do que eu já fiz até então. De qualquer forma, este seria meu projeto particular: #GoSãoPaulo. 

Para colocar o projeto em prática, foi preciso me organizar MUITO em termos de prazos: prazo para inscrição e ingresso no doutorado, prazo para terminar a escrita da dissertação (que naquele ponto, se alongava infinitamente e não parecia ter fim), prazo para meu orientador corrigí-la, prazo para depositá-la a tempo de defender e efetuar minha matrícula com bolsa no programa de pós do IFUSP... pois é, eu vivi no limite dos prazos. No limite MESMO. Só para resumir a novela, eu depositei a dissertação com 4 dias de atraso e dois dias antes da reunião da Comissão de Pós-Graduação do IFSC (a comissão pede que os depósitos sejam feitos com, no máximo, uma semana de antecedência da reunião mensal... mas meu então orientador precisava daquela última semana para terminar as correções...), que era a última possível para o depósito da minha dissertação a tempo de formar uma banca para uma defesa antes do início das matrículas do doutorado (que dura uma semana). Olha... que sufoco foi aquele! De qualquer forma, eu consegui efetuar o depósito e também consegui uma data boa para defender: 26/06/2017! Essa data eu nunca esquecerei. Nunca mesmo.

O dia 26/06 era uma segunda-feira, o que significou que minha família viria passar o final de semana comigo! E que final de semana! Houve tempo, inclusive, para tomar um belo de um chope no Pinguim de Ribeirão Preto! Poucas vezes na vida me senti tão bem quanto no final de semana anterior à minha defesa! Para completar, minha querida namorada e eu decidimos colocar nossas famílias para interagir no almoço de domingo, o que foi bastante bacana! Fato é que, chegado o dia da defesa, correu tudo muito bem. Eu estava bastante confiante, seguro de verdade, de tudo o que eu havia aprendido em todos os anos que trabalhei com LIBS. Eu não dei o menor trabalho ao meu orientador... hehehe... respondi tudo com coerência e argumentei meus pontos de vista. O fato é que a banca gostou do trabalho! Ufa, tirei um peso gigante das costas. Haja visto que a banca fez contribuições sensacionais para a versão corrigida da minha dissertação. E eu sempre serei grato a eles por isso. Enfim, neste mesmo dia rolou um EXCELENTE bolo de comemoração feito pela Amanda e almoço bem servido no La Villa, em São Carlos. Ainda durante o almoço, mais uma notícia: saiu a classificação dos aprovados no doutorado do IFUSP... e... lá... estava... eu! E numa boa colocação, com bolsa de estudos garantida! Ou seja, mais motivos para comemoração...

Passadas as comemorações a ficha caiu: chegou o momento da mudança. Pois é, ainda em São Carlos era preciso definir um local para morar em São Paulo (tarefa árdua), dar um fim em diversas coisas que eu tinha na kitnet e efetuar a mudança de fato (TAREFA ABSOLUTAMENTE ÁRDUA, que sem meu pai teria sido impossível! Ele foi herói, mais uma vez). Mas a questão é que, neste momento, eu teria que me despedir dos amigos que fiz em São Carlos e encarar a realidade de que vê-los seria bem menos frequente, apesar de SP não ser longe de São Carlos (240 Km). O fato é que eu consegui me reunir com muitos, não todo mundo porque não deu (espero que me perdoem) mas sem dizer que eu estava na iminência de ir embora. Prometi festa de despedida, mas eu nunca estou preparado para esse tipo de festa. Prefiro simplesmente ir. E, eventualmente, voltar para conversar muito, beber mais ainda e cantar MAIS AINDA. A mesma coisa aconteceu quando saí de Ituiutaba, 7 anos e meio atrás, em 2010, para ir me graduar em Física em São Carlos... MUITA COISA ACONTECEU de lá para cá e não tenho nem um único arrependimento.

Mudanças não são fáceis. Nem um pouco. Mas, com certeza, eu não me arrependo NEM UM MINUTO de ter saído de Ituiutaba. Olhando para trás, vejo o quão importante foi a decisão de ir morar 500 Km de distância da família, de abrir mão de muitos aniversários de familiares e da presença dos meus amigos para seguir algo em que acredito, algo que eu realmente amo: a Física. Parece besteira dizer isso, mas eu realmente amo Física. Eu acredito que seguir uma carreira em Física não é apenas uma decisão profissional, é literalmente uma opção de vida. Ser Físico! Era isso o que eu queria com 18 anos (na real, eu já queria ser físico antes dos 13, e astrônomo antes dos 6 anos kkk...enfim...) e é isso que eu ainda quero com 25. E espero ainda querer quando chegar aos 200 anos kkkk... De qualquer forma, eu sempre soube que era necessário mudar, seja de cidade, seja de área de estudo, seja de ambiente, para atingir meu objetivo, para eu me sentir completo. E de mudanças eu tenho certeza que nunca me arrependerei. Sejam elas difíceis, complicadas, tensas. O fato é que elas são necessárias. E malditas. E maravilhosas. E cá estou em SP já há um mês. E MUITA água passará pela ponte pelos próximos 4 anos de doutorado. E sabe-se lá o que mais encararei pela frente. 

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